quarta-feira, 29 de agosto de 2007

História de fantasma

Uma coisa que atrapalha muito a minha vida é um anormal excesso de timidez. Perco excelentes oportunidades por falta de coragem de encarar pessoas, de telefonar e, às vezes, até de escrever.
Quando estou tocando num show a coisa é mais ou menos fácil, pois me escondo num personagem, o músico mal-humorado que está sempre com aquela cara de “que espécie de merda eu tô fazendo aqui”. Além disso, o palco tem outras compensações, é muito divertido fazer coisas e provocar reações nas pessoas.
O problema é o que eu faço para ganhar dinheiro. Trabalho numa Instituição de ensino superior, das 10:00 às 18:00 em função administrativa e das 19:10 às 22:45 como professor.
O pior momento compreende os 70 minutos entre uma coisa e outra. Saber que vou encarar uma sala de aula com 40, 60 ou até 80 pessoas, por duas vezes, provoca uma sensação extremamente desagradável. É a hora que da vontade de fugir, ainda bem que eu não sei pra onde.
Às vezes as coisas não são muito boas, às vezes dá tudo certo, mas mesmo assim o saldo final é sempre muito agressivo.
Não quero justificar meus sentimentos, sei melhor do que ninguém o quanto isso está errado e das conseqüências ruins que tem. Mas essa coisa existe, é um fantasma que tem me assombrado desde que eu possa me recordar. E fantasmas não morrem.

domingo, 26 de agosto de 2007

Domingo a noite

Nunca imaginei que um dia fosse ter um blog. Começaria com algo como: "querido diário, hoje...". O fato é que 52 vezes por ano acontece uma coisa muito importante pra mim: a noite de domingo.
Não existe nada mais depressivo que domingo a noite, principalmente se tiver garoa. É o período em que tudo o que me incomoda vem à cabeça, lembro da minha solidão (não importa quantas pessoas estejam me acompanhando), das minhas frustrações diárias, das tristezas das pessoas, enfim, toda a mágoa que fica represada e que não cabe mais em mim.
Dia desses, estava comentando com um amigo sobre um dilema profissional: felicidade ou fazer a coisa certa? Comentei sobre uma aluna, nascida no interior do Ceará, onde não tem escola, veio para São Paulo, nem sabe como foi matriculada na quinta série da escola pública, começou a trabalhar cedo, cursou supletivo e hoje tenta cursar uma faculdade contra a vontade da família. Ela me contou coisas que são, no mínimo, estranhas, como a vez em que passou a noite com os pés mergulhados em água gelada para conseguir estudar e outras bizarrices. Eu contei a ela algumas histórias de terror da minha vida e de como seria importante que ela vencesse a luta contra as dificuldades e procurasse ser uma pessoa, senão melhor, pelo menos mais culta, que sempre ajuda. Concluí o relato ao meu amigo dizendo que alguém tem que dar esperança a essas pessoas, ao que meu amigo perguntou: "e quem te dá esperança?"
O fato é que estou por duas semanas com cara de sabão-em-pedra-na-beira-do-tanque, pensando no quanto eu acabo por me envolver na vida das pessoas, em detrimento da minha própria.
Estas coisas me enchem de mágoa, e é o que teremos por aqui. Pode não ser o mais bonito dos meus lados, mas com certeza é o melhor. Porque mágoa é algo que eu conheço bem.