sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Hora do Rush

Estava na rodovia dos Bandeirantes, voltando para casa depois de dez horas de trabalho, quando toca o telefone. Era da operadora de cartão de crédito, oferecendo um brinde, a escolher entre um par de ingressos para o show do Rush ou um par de ingressos para o show(?) do Exaltasamba...
Depois da óbvia opção canadense, um pensamento surgiu: em menos de um quarto de segundo, consegui pensar em pelo menos 18 senhoritas que me acompanhariam no pagode, porém só conheço uma que gosta de Rush, que devido ao fato de ser casada abandonou a condição de senhorita e de acompanhante.
Basta um pouquinho de distração e a vida nos empurra na direção de pessoas, lugares e coisas que em nada se identificam conosco. Pior de tudo, pessoas, lugares e coisas que se tornam referência, dificultando a procura de nossa “praia”.
Sei lá, vou dormir.

domingo, 9 de maio de 2010

Fábula

Em tempos muito remotos (para dar credibilidade à estória), um sábio viajava com seu discípulo quando avistou uma fazenda. Curiosamente, notou que não havia nenhuma plantação, apenas uma vaquinha.
Dirigindo-se à fazenda, perguntou se ele e seu discípulo poderiam pernoitar ali, tendo resposta afirmativa do fazendeiro.
Durante a noite, o sábio dirige-se ao fazendeiro:
– Notei que não há nada plantado nesta terra. Não seria conveniente que assim fosse?
Responde o fazendeiro:
– Não precisa. A vaquinha me dá leite, que a gente bebe; o que sobra a gente faz queijo, manteiga e ainda troca com os vizinhos por outras coisas.
Depois de mais algum tempo de conversas tão inúteis, o sábio e seu discípulo foram dormir (a lenda não esclarece se foi na mesma cama...).
Pela manhã, os viajantes despedem-se do fazendeiro. Ainda na fazenda, o sábio diz ao discípulo:
– Tá vendo aquele barranco ali? Joga a vaquinha lá.
– Mas mestre – retrucou o discípulo – se eu fizer isto, como o fazendeiro vai sobreviver?
– Caralho, joga a porra da vaca no barranco! – proferiu sabiamente o mestre, sendo prontamente atendido pelo discípulo.
– Vaza! – exclamou cheio de amor o sábio, enquanto corria.
Muitos anos se passaram, até que o sábio morreu e o discípulo se tornou o novo mestre. Com a consciência incomodada, retornou à fazenda do começo da estória e ficou surpreso com o que viu. Plantação de tudo: goiaba, pepino cajá, espada de S. Jorge, umbu (como pode umbu ser tão gostoso?) e outras muitas coisas.
No lugar da casinha, tinha um belo tríplex, com uma Hilux na porta.
Chegando mais perto, encontra o fazendeiro, que o cumprimenta, lembrando-se da visita anterior. O novo sábio pergunta:
– O que aconteceu para que tudo mudasse por aqui?
Responde o fazendeiro, cheio de amor no coração:
– Naquela noite em que você esteve aqui, apareceu um filho da puta e jogou minha vaquinha no barranco. Aí eu tive que fazer outra coisa e resolvi plantar.
A fábula acaba aqui, mas jogaram a minha vaquinha no barranco e parece que o filho da puta fui eu. Agora é só começar a plantar, mas não estou sozinho: tenho um livro sobre cultivo de bonsai.

sábado, 27 de março de 2010

Apagão

Já faz bastante tempo que as coisas andam muito confusas na minha cabeça. Uma opção relativamente infeliz de vida, dedicação extrema ao trabalho, tem me colocado numa situação de pressão exagerada.
Então houve uma sexta-feira, quando recebi duas péssimas notícias relativas à minha vida profissional, que minha cabeça começou a trabalhar num ritmo mais acelerado do que de costume, até que chegou um determinado momento em que simplesmente “apaguei”.
Fui acordado com uma abordagem agressiva de um policial, dentro do meu carro, no estacionamento de um posto de gasolina na beira da Castello Branco.
Feitos os devidos esclarecimentos, fui informado que me encontrava desaparecido por 20 dias.
Passada a tremedeira inicial, me dirigi ao banheiro, olhei-me no espelho e vi uma péssima aparência, roupas sujas, um sentimento de fraqueza física. Fui resgatado pela minha família e a única coisa que tinha para dizer é “não sei”.
Poucas horas depois, todos os pensamentos que pesavam na minha cabeça voltaram, só que agora tem uma coisa pra piorar. Sempre tive a minha intelectualidade como a principal ferramenta de sobrevivência. Depois do “apagão”, passei a por isto em dúvida e agora me sinto mais fraco do que antes.
Segundo minha mãe, deveria encarar a coisa como um “nascer de novo”, recomeçando a vida a partir de agora.
Talvez seja mesmo a melhor coisa “with a little help from my friends”.