Em tempos muito remotos (para dar credibilidade à estória), um sábio viajava com seu discípulo quando avistou uma fazenda. Curiosamente, notou que não havia nenhuma plantação, apenas uma vaquinha.
Dirigindo-se à fazenda, perguntou se ele e seu discípulo poderiam pernoitar ali, tendo resposta afirmativa do fazendeiro.
Durante a noite, o sábio dirige-se ao fazendeiro:
– Notei que não há nada plantado nesta terra. Não seria conveniente que assim fosse?
Responde o fazendeiro:
– Não precisa. A vaquinha me dá leite, que a gente bebe; o que sobra a gente faz queijo, manteiga e ainda troca com os vizinhos por outras coisas.
Depois de mais algum tempo de conversas tão inúteis, o sábio e seu discípulo foram dormir (a lenda não esclarece se foi na mesma cama...).
Pela manhã, os viajantes despedem-se do fazendeiro. Ainda na fazenda, o sábio diz ao discípulo:
– Tá vendo aquele barranco ali? Joga a vaquinha lá.
– Mas mestre – retrucou o discípulo – se eu fizer isto, como o fazendeiro vai sobreviver?
– Caralho, joga a porra da vaca no barranco! – proferiu sabiamente o mestre, sendo prontamente atendido pelo discípulo.
– Vaza! – exclamou cheio de amor o sábio, enquanto corria.
Muitos anos se passaram, até que o sábio morreu e o discípulo se tornou o novo mestre. Com a consciência incomodada, retornou à fazenda do começo da estória e ficou surpreso com o que viu. Plantação de tudo: goiaba, pepino cajá, espada de S. Jorge, umbu (como pode umbu ser tão gostoso?) e outras muitas coisas.
No lugar da casinha, tinha um belo tríplex, com uma Hilux na porta.
Chegando mais perto, encontra o fazendeiro, que o cumprimenta, lembrando-se da visita anterior. O novo sábio pergunta:
– O que aconteceu para que tudo mudasse por aqui?
Responde o fazendeiro, cheio de amor no coração:
– Naquela noite em que você esteve aqui, apareceu um filho da puta e jogou minha vaquinha no barranco. Aí eu tive que fazer outra coisa e resolvi plantar.
A fábula acaba aqui, mas jogaram a minha vaquinha no barranco e parece que o filho da puta fui eu. Agora é só começar a plantar, mas não estou sozinho: tenho um livro sobre cultivo de bonsai.
domingo, 9 de maio de 2010
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